Na contramão de Lula, Salles diz que prioridade ambiental não é a Amazônia
Ex-ministro do Meio Ambiente do governo de Jair Bolsonaro (PL) e recém-eleito deputado federal, Ricardo Salles (PL-SP) diz esperar que o novo governo siga priorizando a agenda ambiental urbana, que, na opinião dele, é um problema maior que a Amazônia. Como mostra reportagem da edição de VEJA desta semana, é grande a expectativa para a participação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na COP27, que está sendo realizada no Egito, principalmente devido à promessa do petista de zerar o desmatamento da floresta — assunto que preocupa o mundo inteiro.
A gestão de Salles no Meio Ambiente foi muito criticada por ambientalistas, que viram nela uma agenda antiambiental. No atual governo, a devastação da Amazônia cresceu entre 2019 e 2021, de acordo com dados oficiais do Inpe (veja quadro abaixo). Uma das coisas defendidas por Salles, no entanto, é consenso entre todos os atores envolvidos com o tema hoje: a de que é preciso levar desenvolvimento social para a população que vive na região, para complementar as ações da polícia e do Ibama no enfrentamento ao crime.
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva prometeu zerar o desmatamento na Amazônia. É uma meta factível e que deve ser prioritária, na sua avaliação? Zerar desmatamento ilegal sim, é factível, mas antes é preciso separar bem o que é ilegal daquilo que é legal ou (apenas) irregular, pois há casos de supressão de vegetação que obedeceriam aos critérios do Código Florestal mas são classificados como ilegais por não terem licença. Isso ocorre em virtude da falta de regularização fundiária, da lentidão dos processos e dos demais erros da burocracia dos estados.
As propostas do governo eleito, na sua avaliação, buscam conciliar a preservação do meio ambiente com o desenvolvimento social e econômico? Para resolver os desafios ambientais da Amazônia é preciso cuidar das pessoas. Tirá-las da pobreza. Isso não se faz sem adotar medidas capitalistas, com viés sustentável, mas de verdade, não mero discurso.
Em sua visão, qual aspecto da política ambiental do governo Bolsonaro deveria prosseguir no próximo governo? A agenda ambiental urbana, esse sim o maior problema de meio ambiente no Brasil. Falta de saneamento e má gestão do lixo. O Marco Legal do Saneamento trouxe os instrumentos e os programas como o Lixão Zero, que precisam continuar.