A responsabilidade de Bolsonaro na destruição de Brasília pelos golpistas
A tomada de Brasília por hordas terroristas que pilharam as sedes dos três poderes da República neste domingo era uma história cantada por aliados de Jair Bolsonaro desde a sua decisão de deixar o país para não passar a faixa a Lula.
Naqueles dias — com baderneiros queimando ônibus, carros e ameaçando civis pelas ruas dos setores hoteleiros Norte e Sul de Brasília –, bolsonaristas menos alinhados com o ímpeto golpista do presidente alertavam para o caos que acabou chegando no fim de semana. “Eles vão tentar alguma coisa. Bolsonaro vai para fora do país para não ser responsabilizado por isso”, disse ao Radar um parlamentar do PL de Valdemar Costa Neto.
Na frente do Palácio da Alvorada, diante de radicais, Bolsonaro viu um padre entoar a convocação dos golpistas. “Abençoai, senhor, por estes dias de angústia e sobretudo o futuro da nossa Nação… O povo brasileiro, por 14 anos, foi roubado e estuprado por uma organização criminosa… Deus disse, vai lutar, eu estou com você. Abençoai, senhor, o nosso capitão. Abençoai cada soldado da pátria, que aprendeu nas escolas que o filho não foge à luta. Aprendeu nas escolas que é independência ou morte. Nós confiamos no Bolsonaro. Pelo amor que o senhor tem em Deus, não decepcione estas crianças”, disse o padre.
“Bolsonaro, eu estou aqui, o senhor me representa. Abençoai, senhor, as nossas Forças Armadas, abençoai nossos soldados, oficiais, praças, suas famílias, dai coragem a eles e inteligência para que nunca prestem continência para um bandido safado”, seguiu o padre.
Bolsonaro silenciou durante toda a escalada autoritária dos apoiadores, só condenou o caos imposto pelos radicais nas estradas quando o agronegócio, que sempre adulou o bolsonarismo, reclamou dos prejuízos causados pelo fechamento das rotas para escoamento da produção. No Alvorada, antes de partir, e já nos Estados Unidos, sempre se portou como um líder que espera por algum evento maior.
Na madrugada desta segunda, o ministro Alexandre de Moraes afastou o governador Ibaneis Rocha do cargo por 90 dias. Foi o momento alto de uma constrangedora atuação do governador. O Radar mostra nesta semana que os bolsonaristas chegaram a acionar a bomba num caminhão de combustíveis próximo ao Aeroporto de Brasília. O atentado terrorista, muito real, só não ocorreu porque os aloprados falharam ao montar a bomba.
Preso, o bolsonarista disse que conseguiu seguir com o plano graças à conivência da polícia de Ibaneis Rocha. O governador, em vez de endurecer com os golpistas, tratou a turba com carinho durante toda a estadia em Brasília. Evitava criticá-los e qualificá-los como golpistas e conferia respeito ao movimento — como se pedir golpe de Estado fosse uma opção legítima.
Ibaneis, a exemplo de sua vice Celina Leão, apoiaram Bolsonaro. Tivesse o presidente reconhecido a derrota e mandado seus fanáticos para casa, poderia dizer que não tem compromisso com a loucura que sequestrou Brasília por algumas horas. Oráculo da turba, no entanto, é o grande responsável pelo conjunto da “obra”.
