agosto 15, 2025

Haddad aprende com erros do passado e imprime novo estilo na Fazenda

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Da crise com o Banco Central à peregrinação que tem feito com parlamentares e governadores, Fernando Haddad vem agindo para imprimir um perfil conciliador no Ministério da Fazenda. É uma espécie de validação da premissa que guiou sua própria indicação. Afinal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre defendeu que o cargo deveria ser ocupado por um político. Mesmo com toda a resistência imposta originalmente ao nome do hoje ministro.

Tida como maior teste de fogo na largada do governo, a reforma tributária tende a ser o grande palco para testar o novo estilo de Haddad. Pessoas próximas lembram que, como prefeito de São Paulo, ele comprou brigas e rompeu pontes. Também avaliam que ele menosprezou a importância de se comunicar bem e dialogar com todos os públicos. E apontam que, embora seja uma pessoa fácil no trato pessoal, costuma ficar na defensiva sempre sua gestão é alvo de críticas. “Ele sempre escorrega quando alguém fala mal dele”, conta um amigo de longa data do ministro.

A ideia é reverter definitivamente essa imagem e dar ao ministro status de grande articulador do novo governo Lula. Tirar uma reforma tributária do papel seria uma conquista e tanto nessa missão. Só nesta semana, foram vários os sinais nessa direção. O esforço para conversar pessoalmente com parlamentares e a negociação de compensações para perdas tributárias com a qual acenou a governadores, por exemplo.

Não é só da porta para fora que Haddad tem buscado o diálogo. O ex-ministro tem se mostrado mais aberto a conversar também com as diferentes correntes internas do PT, muitas das quais torciam o nariz para o ex-prefeito de São Paulo mesmo depois da candidatura presidencial de 2018.

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A escalação do ministério de Lula não deixa dúvidas sobre os planos do presidente para Haddad. Embora existam outros presidenciáveis cuidadosamente alocados na Esplanada, é claramente no ministro da Fazenda que Lula aposta suas fichas. Outros petistas que no passado disputaram com ele essa vitrine tiveram outro destino. Jaques Wagner, por exemplo.

Há outras opções frequentemente citadas nos bastidores como potenciais sucessores de Lula, como Rui Costa (Casa Civil), Flávio Dino (Justiça) e o vice Geraldo Alckmin. Mas a relação do presidente com esses auxiliares não alcança nem de longe o mesmo status que tem Haddad. No caso de Dino e Alckmin, ainda por cima, há outro obstáculo. Ninguém no PT se convence de que Lula aceitaria lançar um nome que não seja do partido.

Os primeiros dois anos da nova gestão serão decisivos para que o ministro da Fazenda se firme como herdeiro do espólio eleitoral de Lula. Se é que o presidente vai mesmo largar o osso ao fim do mandato e se retirar da disputa presidencial de 2026. Nos bastidores, quem conhece bem Lula não se ilude. Se o cenário político mostrar que a busca da reeleição será determinante para a continuidade do projeto do PT, Lula dificilmente sairá de cena, acreditam seus aliados.

Mas a idade avançada e a vontade de encerrar o ciclo grande estilo certamente vão pesar na decisão. Se o atual mandato de Lula correr como ele espera e as condições para construir sua sucessão estiverem dadas, é bem provável que a porta se abra para Haddad. Mas caberá a ele ter o que colocar na mesa na hora da decisão.

 

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