agosto 12, 2025

Nikolas Ferreira mostra que a esquerda não aprendeu com Bolsonaro

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Jair Bolsonaro sempre foi uma figura do baixo clero do Congresso. Para aparecer, vivia pelos corredores da Casa arrumando brigas com parlamentares de esquerda.

Na tribuna, seguia o mesmo método. Seus discursos com falas polêmicas e, em alguns casos, distantes do decoro parlamentar terminavam em gritos e confusão. Não foram poucas as tardes de sessão da Câmara em que Bolsonaro, após provocar um integrante da esquerda, conseguia holofotes para suas posições.

Na disputa com o PT pelo comando da Comissão dos Direitos Humanos da Câmara, durante o primeiro governo de Dilma Rousseff, Bolsonaro ganhou dias a fio de exposição no noticiário nacional. No Congresso, manifestantes protestavam contra Bolsonaro dia e noite. O deputado divertia-se com os ataques e, naqueles dias, já recebia mais de 3.000 e-mails diários de admiradores pelos canais oficiais do gabinete.

Certa vez, numa entrevista a Jô Soares, ele admitiu seu método de provocar para aparecer. Ele foi chamado a dar entrevista na Globo porque havia defendido, numa outra ocasião, fuzilar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Questionado sobre a fala, Bolsonaro foi direto: “Se eu não peço o fuzilamento do Fernando Henrique Cardoso, você jamais estaria me entrevistando agora”.

É esse mesmo método que, há dias, mantém o deputado Nikolas Ferreira entre os personagens mais comentados e pesquisados na internet brasileira. No dia da Mulher, ele subiu à tribuna da Câmara com uma peruca loira e fez um constrangedor discurso contra mulheres transexuais.

O carnaval em torno da fala vem transformando o parlamentar de 26 anos em celebridade entre os muitos que pensam como ele ou simplesmente se colocam em posição distante da esquerda. Uma parte importante da sociedade quase reelegeu Bolsonaro e seu projeto político por concordar com suas visões de mundo.

O que Ferreira defende é crime? Há instâncias a acionar. Reflete preconceitos impregnados na sociedade? Há projetos de lei e ações educativas a serem propostas. Cair em toda provocação da direita, no entanto, é uma escolha que só ajuda a divulgar figuras como Ferreira. A esquerda, que já serviu de escada para Bolsonaro no passado, segue, ao cair nessas armadilhas retóricas, repetindo a história com o jovem deputado da peruca. Sem projeto sólido de país, a base do governo se deixa pautar pelo bolsonarismo.

 

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