Lula fez reunião para reclamar do seu governo em público
Lula resolveu repreender sua equipe ministerial. Acha que tem motivos e, certamente, tem alguns.
Ele tem 39 alvos disponíveis permanentemente para queixas presidenciais — todos com gabinete, casa, carro, motorista e mordomias inerentes ao status de ministro.
Ontem, reuniu 19 deles para transmitir uma mensagem pública: “Não queremos propostas de ministros. Todas as propostas de ministros deverão ser transformadas em propostas de governo. E só será transformada em proposta de governo quando todo mundo souber o que vai ser decidido.”
Acrescentou: “Por isso que é importante que toda e qualquer posição [de um ministério], qualquer genialidade que alguém possa ter, é importante que, antes de anunciar, faça uma reunião com a Casa Civil para que a Casa Civil discuta com a Presidência da República, para que a gente possa chamar o autor da genialidade e possa anunciar publicamente como se fosse uma coisa do governo.”
Antigos e novos aliados têm observado mudanças em Lula que julgam relevantes neste início do terceiro mandato. Dizem-se surpreendidos com a acidez de um líder que, habitualmente, adotava um tom espirituoso para dar leveza à travessia de situações políticas complexas nos governos de duas décadas atrás.
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Na campanha da reeleição de 2006, por exemplo, ele fez do limão que era a crise do mensalão — e quase custou-lhe o mandato —, uma limonada. “Humildemente, reconheço que nós fizemos coisas erradas”, repetia nos comícios, ressalvando bem-humorado: “Mas com tudo de errado que fizemos, o país melhorou muito.” Verdade ou não, não importava. Ele ganhou mais quatro anos na presidência e, na sequência, elegeu a sucessora, Dilma Rousseff.
Lula mudou, dizem assessores, líderes parlamentares e ministros. Especulam sobre o azedume nas críticas contínuas ao próprio governo — dos ministérios ao Banco Central. Identificam na origem da mudança o impacto dos 580 dias de prisão. É possível.
Certo mesmo é que as sucessivas queixas públicas sobre o governo revelam descoordenação e falta de controle no centro de comando — ou seja, dele.
É impossível, naturalmente, que Lula conduza seu governo com base na premissa de vida de Homer Jay Simpson, lendária criatura do cartunista americano Matt Groening: “Já estava assim quando cheguei.”
Por isso, no Congresso já se considera provável que avance numa reforma ministerial ainda neste semestre.