junho 27, 2025

Fator humano causa maioria dos acidentes no trânsito de Palmas; veja histórias de quem sobreviveu

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A imprudência dos motoristas e motociclistas é apontada pelos órgãos de trânsito como uma das principais causas de acidentes. Em Palmas, segundo a Secretaria Municipal de Segurança e Mobilidade Urbana, os principais fatores de risco são dirigir sob influência de álcool, sem habilitação e o desrespeito a sinalização. Estes são exemplos do chamado fator humano.

“A maioria dos acidentes poderia ser evitada. Há muita imprudência, imperícia e até negligência por parte dos usuários da via. A gente tem esse levantamento dos fatores e condutas de risco, onde é atribuído o comportamento, a forma como as pessoas estão dirigindo, que na sua maioria acarreta em riscos e leva aos acidentes graves e fatais”, explica Zuilton Chagas, coordenador da Comissão de Dados e Informações do Programa Vida no Trânsito (PVT)

— Psicanalista e doutor em psicologia, Carlos Rosa.

O imprudente é aquele que não faz um bom cálculo dos riscos e efeitos de determinados comportamentos. Ou seja, a imprudência está diretamente ligada às escolhas erradas feitas no trânsito.

Escolhas que mais cedo ou mais tarde podem resultar em um acidente. Na melhor das hipóteses, uma batida pode gerar apenas danos materiais, mas as vítimas também podem ser levadas à internação hospitalar, ficar com sequelas e, no pior dos cenários, o resultado é a morte.

Veja abaixo histórias de pessoas que foram marcadas pela imprudência no trânsito e conseguiram sobreviver, mas hoje vivem as consequências:

Motociclista, 28 anos

 

Um editor de vídeo de 28 anos, que não quer se identificar, confessa que é imprudente no trânsito. Dirigir em alta velocidade e até sob efeito de álcool eram rotina na vida dele até sofrer um acidente em uma rotatória de Palmas.

Ele sabe que teve sorte. O acidente não foi tão grave e, por sorte, não envolveu outras pessoas.

“Estava em uma festa. A gente resolveu sair e ir para casa de um amigo. Nesse percurso, como eu já tinha bebido, não consegui controlar a moto em uma rotatória e cai da moto. Não foi muito grave e só eu me feri”, contou.

O jovem conta que também costuma abusar da velocidade. “Sempre que eu tinha pressa ou estava atrasado, a gente acaba acelerando mais do que deve. Meus atos de imprudência são mais referentes à velocidade”

Ele afirma que aprendeu a lição. “Após o acidente eu decidi mudar de atitude porque fiquei com medo de machucar outra pessoa. Isso é o que mais me impactou e eu realmente mudei bastante minha postura, principalmente quando estou com alguém”, afirmou.

Vidas perdidas no trânsito

 

Em 2022 foram registrados no Tocantins 4.865 acidentes, segundo dados do Departamento de Trânsito do Tocantins (Detran). Os três primeiros meses deste ano já somam 959 acidentes. O número de vidas perdidas no trânsito também chama atenção: foram 543 no ano passado e 101 em 2023 – até o final de março.

Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), disponibilizados pela Secretaria de Estado da Saúde (SES), mostram que do total de vítimas de acidentes neste ano, 715 eram homens e 244 mulheres. Em relação às mortes, 41 vítimas eram motociclistas.

Na capital, segundo os números da Secretaria de Segurança e Mobilidade Urbana (Sesmu), no ano passado foram 61 mortes causadas por acidentes de trânsito. Em 2023, foram registrados 21 óbitos no perímetro urbano de Palmas.

Motociclistas são as maiores vítimas de acidentes em Palmas — Foto: Arte g1

Os dados do estado e do município revelam um perfil de risco para homens jovens com idade entre 20 a 29 anos. O Coordenador da Comissão de Dados e Informações do Programa Vida no Trânsito (PVT), Zuilton Chagas, confirma que os motociclistas são as maiores vítimas.

“Há uma pequena parcela de pedestres e ciclistas, mas na esmagadora maioria são motociclistas. Eles são o elo mais frágil porque a moto não tem muita segurança, qualquer problema, geralmente quem acaba levando a pior é o motociclista”, explica.

 

O fator humano também deixa seu reflexo nos números de infrações.

Em 2023, maioria das infrações registradas pelos agentes de trânsito na capital foram por erros básicos como não utilizar cinto de segurança e usar calçados inadequados. São atitudes negligentes quem podem atrapalhar a condução ou agravar as lesões em um acidente.

Em relação às infrações registradas por radares, as condutas mais frequentes são o excesso de velocidade e o desrespeito à sinalização e aos semáforos. Também são frequentes os casos de motoristas sem habilitação.

No trânsito, escolha a vida

Especialista explica como criar uma sociedade mais consciente no trânsito

Se grande parte dos acidentes são resultado de escolhas erradas no trânsito, é possível fazer escolhas melhores e reduzir o número de vítimas. O psicanalista e doutor em psicologia, Carlos Rosa, explica que a tendência em agir de forma imprudente está relacionada com o conflito entre público e privado.

De um ponto de vista sociológico, a imprudência também está relacionada à forma como cidadão enxerga as leis em geral. “Possuímos uma tendência a achar a que estas não foram feitas para nós, mas sim para os outros. Como se todos nós tivéssemos um resquício do senhor de engenho que tudo podia e nada iria lhe acontecer”, disse.

O especialista explica que exemplos de natureza traumática, como os acidentes que aconteceram com Regilson Oliveira Pereira e o motociclista que não quis se identificar, podem modificar de forma mais efetiva as atitudes e comportamento das pessoas próximas às vítimas.

“Isso porque ocorrências que mexem com nossas emoções tendem a atingir aquilo que a Psicologia Social chama de Representações Nucleares: que seriam as nossas crenças e formas de ver o mundo mais basilares”.

Só que não precisamos esperar o pior acontecer para tomar uma atitude.

Nossa relação com o trânsito se trata de uma questão cultural e por isso é preciso tempo e muitos esforços para se conseguir uma mudança genuína na sociedade. Esses esforços passam pela conscientização acerca do respeito pelas leis e pela educação para o trânsito.

O trabalho deve começar nas escolas, com a inclusão de disciplinas sobre cidadania e direitos no currículo escolar, buscando a construção de narrativas mais voltadas para a tolerância e para o diálogo. Além disso, a formação dos condutores tem um papel importante. “Infelizmente, o excessivo foco na punição (multas, prisões) tem pouco efeito transformativo no comportamento e nas atitudes das pessoas. A própria psicologia já provou que punições podem até diminuir a ocorrência de um comportamento, mas não têm nenhum efeito na produção de outros comportamentos mais adequados. Por isso, os cursos de formação e campanhas publicitárias do governo deveriam enfocar mais nas relações respeitosas entre as pessoas e menos nas penalidades. Campanhas que mostram as consequências dolorosas da imprudência também são efetivas, e essas já são implementadas pelo Estado”, explica.

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