Erros e azares do Brasil no Catar
Sem sorte, como diria Nelson Rodrigues, não se atravessa a rua. Imagine no futebol. Chegando à terceira prorrogação, ficou evidente que a Croácia estava tendo muita sorte no jogo contra o Brasil. Como disse o técnico deles, “foi um milagre”. São heróis por um dia de uma nação pequena e sofrida.
Porém, sabendo que a sorte faz parte do jogo, assim como os milagres, o Brasil deu chance ao azar nestas quartas de final da Copa do Mundo. A começar pela inexplicável convocação de um lateral que não poderia jogar por 90 minutos. Sem contar o excesso de atacantes frente à escassez de defensores.
Adiante, o clima que se instalou, com cabelos estilosos e coreografias ensaiadas, fazia parecer mais uma excursão de jogos amistosos do que a participação na competição mais importante do planeta.
O jogo, em si, foi coalhado de pequenos erros e azares. Mais de uma dezena de finalizações que não entraram, substituições que não funcionaram, Lucas Paquetá abaixo do normal e cansado, além de falta de maturidade para administrar o resultado.
O “futebol moleque” do Brasil funciona quando erros não são cometidos. Deixaram Modric solto para organizar a Croácia, avançaram à defesa sem preparar a cobertura e, pasmem, perderam pênaltis em uma sequência errada de batedores.
Continua após a publicidade
Tite é um bom treinador. Mas não está à altura da Seleção brasileira. As concessões que fez, permitindo o clima de “brodeiragem” de time de pelada no Aterro do Flamengo, não condiz com o sofrimento de milhões de brasileiros.
A Seleção brasileira foi azarada contra a Croácia. Mas, provavelmente, a derrota por pênaltis nos evitou um vexame maior. Imaginem enfrentar uma Argentina com a faca nos dentes ou uma França organizada e talentosa.
Salvo Fernando Diniz, não há no Brasil de hoje treinador brasileiro conhecido com nível para treinar a nossa Seleção, que, no fundo, é um time europeu. Afinal, quando o avião da Seleção pousar em Londres, apenas três jogadores voltarão para o país. Assim, a CBF deve buscar no exterior a solução para organizar o orgulho nacional.
Nessa participação na Copa, não houve a injustiça de 1982 nem o roubo de 1978, quando Jorge Videla foi o grande astro do time argentino. Nem o vexame do 7 a 1. O que se lamenta são os seis anos sem a construção de um padrão de jogo, de comportamento, de foco, de disciplina e de entrega , além de pragmatismo na convocação dos atletas.
Claro que existem pontos positivos. Neymar se esforçou muito , mas o azar voltou a afligi-lo. Vinicius Júnior mostrou espírito de Seleção, assim como Richarlison. O time é bom. A conta da infelicidade deve ser cobrada de Tite, que, após a derrota, disse “estar em paz consigo mesmo”. Mas, nós brasileiros, não estamos em paz.