José Múcio: bolo de rolo, fogo amigo e a política como vício
Escolhido para o cargo de ministro da Defesa pelo presidente eleito Lula, José Múcio Monteiro Filho é hábil negociador político, bom de prosa e político profissional. Com cinco mandatos de deputado federal no currículo, ele conhece de sobra o bônus e o ônus da vida pública, especialmente nos governos do PT.
Em 2007, no segundo mandato de Lula, Múcio deixou a liderança do governo na Câmara para assumir o posto de ministro de Relações Institucionais. Trocou a planície pelo Planalto, ganhou prestígio, aproximou-se ainda mais do chefe, mas conheceu como poucos o poder do fogo amigo. Na época, tornou-se uma espécie de alvo preferencial de outros dois ministros de Lula.
Titular da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins responsabilizava Múcio por todo vazamento de informação saído do Planalto, o que levou Múcio a fazer o possível para não ser visto pelo colega conversando com jornalistas. Já Dilma Rousseff, à época à frente da Casa Civil, achava que Múcio fazia o jogo dos partidos políticos, reforçando o lobby deles por cargos no setor elétrico, a menina dos olhos da gerentona.
Bem-humorado, Múcio costumava comparar o seu gabinete no palácio a um bolo de rolo, iguaria típica de seu estado natal, Pernambuco. Mas fazia uma importante ressalva: ali, o que sobrava mesmo era rolo, problema, dor de cabeça. Não era exagero. Certa vez, a cúpula do governo entrou em atrito por causa de uma disputa de indicações para a diretoria da Biblioteca Nacional. Até cargos de terceiro escalão rendiam controvérsia.
Em 2009, veio a recompensa. Lula indicou Múcio para o Tribunal de Contas da União (TCU), onde ele permaneceu até o fim de 2020. Quando decidiu se aposentar, Múcio disse a pessoas próximas que era hora de descansar e curtir a família e os amigos. Sua pregação prenunciava uma aposentadoria definitiva da vida pública. A partir de primeiro de janeiro, ele voltará a dar expediente em Brasília — sob a chefia de Lula, mas sem Martins e Dilma nos gabinetes próximos. A política é mesmo um vício.