Enquanto isso, milhões de brasileiros continuam sem acesso à atenção visual básica, em comunidades onde o oftalmologista não chega e onde o optometrista, muitas vezes, é o único a estender a mão.

Não há justificativa, nem argumento técnico ou ético, que sustente tamanha intolerância.
Não há ciência onde impera o medo.
Não há saúde onde existe ódio.

Marcelo não foi morto apenas por uma bala.
Foi morto por um sistema que escolheu o ego em vez da empatia, o domínio em vez da cooperação, a cegueira moral em vez da clareza do bem.

E o que faremos nós colegas, cidadãos, autoridades, imprensa diante disso?
Vamos repetir as frases de pesar e seguir em frente como se nada tivesse acontecido?
Vamos fingir que não há responsabilidade coletiva em cada ato de silêncio, em cada porta fechada, em cada diploma ignorado?

Eu, não.
Eu escolho não me calar.
Porque há crimes que ultrapassam o corpo da vítima e atingem a consciência de um país inteiro.
E esse é um deles.

Marcelo nos deixa uma missão: transformar essa dor em voz, esse luto em luta, e essa escuridão em caminho.
Porque nenhuma morte será em vão quando o grito que dela nasce for mais forte que o medo.

Hoje, o Brasil chora mais um filho e perde um pedaço da visão que ainda lhe restava.
Mas amanhã, se houver coragem, talvez a luz volte a atravessar as sombras.

Por justiça. Por respeito. Pela liberdade de exercer o que é certo.

Pela Optometria. Pelo direito de enxergar.

Tom Lyra
Ex vice governador do estado do Tocantins