Roberto Campos Neto: “Independência do Banco Central será testada agora”
Em um evento realizado pela BlackRock, na tarde desta quarta-feira, 23, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, evitou especular sobre as propostas do governo eleito de mudanças para o arcabouço fiscal do país a partir do próximo ano. Nas entrelinhas, no entanto, ressaltou que o Brasil precisa demonstrar equilíbrio nas contas para evitar que a autarquia tenha de tomar decisões mais duras, como o aumento da taxa Selic.
“O mundo está muito endividado e o Brasil precisa demonstrar um equilíbrio nas contas daqui para frente”, disse Campos Neto. “A gente vê as expectativas na parte longa começando a desancorar, o que contamina o curto prazo. É importante ver o que vai sair [da proposta do PT], o que isso significa em termos de trajetória da dívida, e obviamente a reação a isso faz parte da função do Banco Central.” O presidente da autarquia também demonstrou preocupação com a “inflexão” na inflação do país, mas reconheceu que há uma demanda por maior gasto com programas sociais devido a uma herança maldita da pandemia de Covid-19.
Campos Neto destacou, por fim, que a independência do Banco Central passará por um teste no novo governo. “A independência é muito nova e recente. Não é uma autonomia completa, como foi desenhada pelo meu avô lá atrás. Mas acho que ela vai ser testada agora. É a primeira vez que a gente passa por um governo diferente. É muito importante que os diretores entendam que eles têm um mandato, e isso, no caso, se estende a mim também. É importante que eu fique esses dois anos”, ressaltou, destacando o “esforço” que foi feito pela população, o Congresso e o Superior Tribunal Federal para que a autonomia do Banco Central fosse aprovada.